"A polémica em
torno das acusações das autoridades angolanas segundo as quais Mário Soares e
seu filho João Soares seriam dos principais beneficiários do tráfico de
diamantes e de marfim levadas a cabo pela UNITA de Jonas Savimbi, tem sido
conduzida na base de mistificações grosseiras sobre o comportamento daquelas
figuras políticas nos últimos anos.
Enquanto desde logo
a intervenção pública da generalidade das figuras políticas do País, que vão
desde o Presidente da República até ao Deputado do Bloco de Esquerda, Francisco
Louçã, passando pelo PP de Paulo Portas e Basílio Horta, pelo PSD de Durão Barroso
e por toda a sorte de fazedores de opinião, jornalistas (ligados ou não à
Fundação Mário Soares), pensadores profissionais, autarcas, «comentadores» e
comentadores de serviço, etc. Tudo como se Mário Soares fosse uma virgem
perdida no meio de um imenso bordel.
Sei que Mário
Soares não é nenhuma virgem, e que o País (apesar de tudo) não é nenhum bordel.
Sei também que não gosto nada de Mário Soares e do filho João Soares, os quais
se têm vindo a comportar politicamente como uma espécie de versão portuguesa da
antiga dupla haitiana «Papa Doc» e «Baby Doc». Vejamos então porque é que não
gosto deles.
A primeira ideia
que se agigante sobre Mário Soares é que é um homem que não tem princípios, mas
sim fins. É-lhe atribuida a frase "Em política, feio, feio, é perder".
São conhecidos
também os seus zigue-zagues políticos desde antes do 25 de Abril. Tentou
negociar com Marcelo Caetano uma legalização do seu (e dos seus amigos)
agrupamento político, num gesto que mais não significava do que uma imensa
traição a toda a oposição, mormente àquela que mais se empenhava na luta contra
o fascismo.
Já depois do 25 de
Abril, assumiu-se como o homem dos Americanos e da CIA em Portugal e na própria
Internacional Socialista. Dos mesmos Americanos que acabavam de conceber, financiar
e executar o golpe contra Salvador Allende no Chile, e que colocara no poder
Augusto Pinochet.
Mário Soares
combateu o comunismo e os comunistas portugueses como nenhuma outra pessoa o
fizera durante a Revolução, e foi amigo de Nicolae Ceausescu, figura que chegou
a apresentar como modelo a ser seguido pelos comunistas portugueses.
Durante a Revolução
Portuguesa, andou a gritar nas ruas do País a palavra de ordem "Partido
Socialista, Partido Marxista", mas mal se apanhou no poder meteu o
socialismo na gaveta e nunca mais o tirou de lá. Os seis Governos
notabilizaram-se por 3 coisas: políticas abertamente de direita, a facilidade
com que certos empresários ganhavam dinheiro e essa inovação da austeridade
soarista (versão bloco central), que foram os salários em atraso.
Insultos a um Juiz.
Em Coimbra, onde veio uma vez como Primeiro-Ministro, foi confrontado com uma
manifestação de trabalhadores com salários em atraso. Soares não gostou do que
ouviu (chamaram-lhe o que Soares tem chamado aos governantes angolanos), e
alguns trabalhadores foram presos por polícias zelosos. Mas, como não
apresentou queixa (o tipo de crime em causa exigia a apresentação de queixa), o
Juiz não teve outro remédio se não libertar os detidos no próprio dia. Soares
não gostou e insultou publicamente esse Magistrado, o qual ainda apresentou
queixa ao Conselho Superior da Magistratura contra Mário Soares, mas sua
excelência não foi incomodado.
Na sequência, foi
modificado o Código Penal, o que constituiu a primeira alteração de que foi
alvo por exigências dos interesses pessoais de figuras públicas.
Soares é arrogante,
pesporrante e malcriado. É conhecidíssima a frase que dirigiu, perante as
câmaras de TV, a um agente da GNR em serviço que cumpria a missão de lhe fazer
escolta enquanto Presidente da República durante a presidência aberta em
Lisboa: «Ò Sr. Guarda! Desapareça!». Nunca em Portugal um agente da autoridade
terá sido tão humilhado publicamente por um responsável político, como aquele
pobre soldado da GNR.
Em minha opinião, Mário
Soares nunca fdoi um verdadeiro democrata. Ou melhor, é muito democrata se for
ele a mandar. Quando não, acaba-se imediatamente a democracia. À sua volta não
tem amigos, e ele sábe-o: tem pessoas que não pensam pela própria cabeça e que
apenas fazem o que ele manda e quando ele manda. Só é amigo de quem lhe
obedece. Quem ousar ter ideias próprias é triturado sem quaisquer
contemplações.
Algumas das suas
mais sólidas e antigas amizades ficaram pelo caminho quando ousaram pôr em
causa os seus interesses e as suas ambições pessoais.
Soares é um homem
de ódios pessoais sem limites, os quais sempre colocou acima dos interesses
políticos do partido e do próprio País.
Em 1980, não
hesitou em apoiar objectivamente o General Soares Carneiro contra Eanes, não por
razões políticas, mas devido ao ódio pessoal que nutria pelo General Ramalho
Eanes. E como o PS não alinhou nessa aventura que iria entregar a Presidência
da República a um General do antigo regime, Soares, em vez de acatar a decisão
maioritária do seu partido, optou por demitir-se e passou a intrigar, a
conspirar e a manipular as consciências dos militantes socialistas e de toda a
sorte de oportunidades, não hesitando mesmo em espezinhar amigos de sempre como
Francisco Salgado Zenha.
Confesso que não
sei porque é que o séquito de prosélitos do soarismo, onde, lamentavelmente,
parece ter-se incluído o actual Presidente da República, apareçam agora tão
indignados com as declarações de governantes angolanos e estiveram tão calados
quando da publicação do livro de Rui Mateus sobre Mário.
Soares. Na altura
todos meteram a cabeça na areia, incluindo o próprio clã dos Soares, e nem
tugiram nem mugiram, apesar de as acusações serem então bem mais graves do que
as de agora. Porque razão é que Jorge Sampaio se calou contra as «calúnias» de
Rui Mateus?
Dinheiro de Macau.
Anos mais tarde, um senhor que fora Ministro de um Governo chefiado por Mário
Soares, Rosado Correia, vinha de de Macau para Portugal com uma mala com
dezenas de milhares de contos. A "proveniência" do dinheiro era tão
pouco limpa, que um membro do Governo de Macau, António Vitorino, foi a correr
ao aeroporto tirar-lhe a mala à última hora.
Parece que se
tratava de dinheiro que tinha sido obtido de empresários chineses com a
promessa de benefícios indevidos por parte do Governo de Macau. Para quem era
esse dinheiro foi coisa que nunca ficou devidamente esclarecida. O caso Emaudio
(e o célebre fax de Macau) é um episódio que envolve destacadíssimos soaristas,
amigos intímos de Mário Soares e altos dirigentes do PS da época soarista.
Menano do Amaral chegou a ser responsável pelas finanças do PS, e Rui Mateus
foi durante anos responsável pelas relações internacionais do partido, ou seja,
pela angariação de fundos no estrangeiro.
Não havia
seguramente no PS ninguém em quem Soares depositasse mais confiança. Ainda hoje
subsistem muitas dúvidas (e não só as lançadas no livro de Rui Mateus) sobre o
verdadeiro destino dos financiamentos vindos de Macau. No entanto, em Tribunal
os pretensos corruptores foram processualmente separados dos alegados
corrompidos, com esta peculiaridade (que não é inédita) judicial: os pretensos
corruptores foram condenados, enquanto os alegados corrompidos foram
absolvidos. Aliás, no que respeita a Macau só um Pais sem dignidade e um povo
sem brio nem vergonha é que toleravam o que se passou nos últimos anos (e nos
últimos dias) de administração portuguesa naquele Território, com os chineses
pura e simplesmente a chamarem ladrões aos portugueses. E isso não foi só
dirigido a alguns colaboradores de cartazes do MASP que a dada altura
enxamearam aquele território. Esse epíteto chegou a ser dirigido aos amis altos
representantes do Estado Português. Tudo por causa das fundações criadas para
tirar dinheiro de Macau. Mas isso é outra história cujos verdadeiros contornos
hão-de ser um dia conhecidos. Não foi só em Portugal que Mário Soares conviveu
com pessoas pouco recomendáveis. Veja-se o caso de Betino Craxi, o líder do PS
italiano, condenado a vários anos de prisão pelas autoridades judiciais do seu
país, devido a graves crimes como corrupção. Soares fez questão de lhe
manifestar publicamente solidariedade quando ele se refugiou na Tunísia.
Veja-se também a
amizade com Felipe Gonzáles, líder do Partido Socialista de Espanha que não
encontrou melhor maneira para resolver o problema político do País Basco senão
recorrer ao terrorismo, contratando os piores mercenários do Lumpen e da
extrema-direita da Europa para assassinar militantes e simpatizantes da ETA.
Mário Soares
utilizou o cargo de Presidente da República para passear pelo estrangeiro como
nunca ninguém fizera em Portugal. Ele, que com tanta austeridade impôs aos
trabalhadores portugueses enquanto Primeiro-Ministro, gastou, como Presidente
da República, milhões de contos dos contribuintes portugueses em passeatas pelo
Mundo, com verdadeiros exércitos de amigos e prosélitos do soarismo, com
destaque para jornalistas. São muitos desses «viajantes» que hoje sem põem em
bicos de pés a indignar-se pelas declarações dos governantes angolanos.
Enquanto Presidente
da República, Soares abusou como ninguém das distinções honoríficas do Estado
Português. Não há praticamente nenhum amigo que não tenha recebido uma
condecoração, enquanto outros cidadãos, que tanto mereceram, não obtiveram
qualquer distinção durante o seu «reinado».
Um dos maiores
vultos da resistência antifascista no meio universitário, e um dos mais
notáveis académicos portugueses, perseguido pelo antigo regime, o Prof. Orlando
de Carvalho, não foi merecedor, segundo Mário Soares, da Ordem da Liberdade.
Mas alguns que até colaboraram com o antigo regime receberam as mais altas
distinções. Orlando de Carvalho só veio a receber a Ordem da Liberdade depois
de Soares deixar a Presidência da República, ou seja, logo que Sampaio tomou
posse. A razão foi só uma: Orlando de carvalho nunca prestou vassalagem a
Soares, e Jorge Sampaio não fazia depender disso a atribuição de condecorações.
Funcação com
dinheiros públicos. A pretexto de uns papeis pessoais cujo valor histórico ou
cultural nunca ninguém sindicou, Soares decidiu fazer uma Fundação com o seu
nome. Nada de mal se o fizesse com dinheiro seu, como seria normal.
Mas não: acabou por
fazê-lo com dinheiros públicos. Só o Governo, de uma só vez, deu-lhe 500 mil
contos, e a Câmara de Lisboa, presidida pelo seu filho, deu-lhe um prédio no
valor de centenas de milhares de contos, Nos Estados Unidos, na Inglaterra, na
Alemanha ou em qualquer país em que as regras democráticas fossem minimamente
respeitadas muita gente estaria, por isso, a contas com a justiça, incluindo os
próprios Mário e João Soares, e as respectivas carreiras políticas teriam aí
terminado. Tais práticas são absolutamente inadmissíveis num país que
respeitasse o dinheiro estorquido aos contribuintes pelo fisco. Se os seus documentos
pessoais tivessem valor histórico Mário Soares deveria entregá-los a uma
instituição pública, como a Torre do Tombo, ou o Centro de Documentação 25 de
Abril, por exemplo. Mas para isso era preciso que Soares fosse uma pessoa com
humildade democrática e verdadeiro amor pela cultura. Mas não. Não eram
preocupações culturais que motivavam Soares. O que ele pretendia era outra
coisa. Porque as suas ambições não têm limites ele precisava de um instrumento
de pressão sobre as instituições democráticas e dos órgãos de poder e de
intromissão directa na vida do País. A Fundação Mário Soares está a
transformar-se num verdadeiro cancro da democracia portuguesa.
O livro de Rui
Mateus, que foi rapidamente retirado do mercado após a celeuma que causou em
1996 (há quem diga que "alguém" comprou toda a edição), está
disponível em:
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