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quarta-feira, 15 de julho de 2015

“ESTÓRIAS” DA HISTÓRIA


PALMA INÁCIO: TERRORISTA, BANDIDO OU HERÓI?

O cidadão Palma Inácio faleceu no dia 14 de Julho de 2009, faz agora quatro anos. Na altura escreveram-se algumas imprecisões históricas, ignoraram-se convenientemente factos, branquearam-se acções e fizeram-se elogios patéticos. Como estamos no campo da opinião, também queremos dar a nossa.
O conceito de “terrorismo” vem da Antiguidade Clássica e devemos remontar à seita dos “Assassinos” (Século XII) e ao “Velho da Montanha”, para encontrar o seu início organizado.
Até hoje não se acordou numa definição de terrorismo dada a dificuldade objectiva de o fazer. Isto é, para uns, o autor de um acto tido como terrorista é, para outros, um acto de heroísmo em defesa de uma causa. Isto, para não entrarmos no conceito do próprio Estado poder ser considerado terrorista…
De qualquer modo, terrorismo ou não, queremos referir-nos sempre a actos de violência que implicam, ou podem implicar mortes e danos – inclusivé pretender infundir o terror – e que visam objectivos políticos, ou simples violência gratuita.
Por outro lado, o delito comum está ligado aos crimes de assassínio, estupro, roubo, etc., que visam motivações de ordem pessoal.
Herói, por seu turno, vem do grego “héros”, homem extraordinário pelas suas proezas guerreiras; protagonista duma obra literária (depreciativo); homem notável pelos seus desmandos ou irregularidades. 
Palma Inácio (PI) foi um exemplo acabado em como “a ocasião faz o ladrão”.
Vejamos como tudo começou.
Palma Inácio nasceu algarvio, em Ferragudo, no ano de 1922. Filho de família modesta, nada se conhece da sua infância que seja relevante para o que estamos a tratar.
Concorreu à Aeronáutica Militar com 18 anos e em 1946 encontrava-se a prestar serviço na Base Aérea (BA1) em Sintra, como ajudante de mecânico de aviões, tendo atingido o posto de furriel.
Segundo depoimento do Capitão Graciano chefe dos mecânicos da BA1 2 e também responsável pela manutenção dos aviões do Aeroclube de Portugal (ACP) que operavam a partir da base, PI era “ambicioso, refilão, com tendência para a indisciplina, insatisfeito, revelando por vezes menos simpatia para com o regime político (através de desabafos). Fundamentalmente revelava inconformismo com a sua situação. Queria ser piloto, mas não tinha habilitações mínimas para concorrer ao curso de praças pilotos”.
Não tendo dinheiro para tirar o curso no ACP pediu para ser ajudante do Cap. Graciano como funcionário daquele aeroclube, o que foi aceite e lhe proporcionou uma nova remuneração. Conseguiu ainda ser mecânico do avião "Dragon" que fazia voos de fotografia aérea aos fins – de - semana para os serviços geográficos e cadastrais.
Este pecúlio extra permitiu que se inscrevesse no ACP a fim de tirar o brevet de piloto civil. Caiu então na tentação de roubar gasolina dos aviões militares para os aviões do ACP, permitindo-lhe, deste modo, fazer mais horas de voo com menos despesa (registava uma quantidade de gasolina superior à que metia nos depósitos; o excedente, impróprio para consumo, juntava num bidon e utilizava posteriormente nos aviões do ACP). Na caderneta de voo escrevia ainda um total de horas, menor do que realmente fazia, pagando assim menos. Tudo isto representava procedimentos irregulares do ponto de vista disciplinar e da segurança de voo.
Num dia de Setembro resolveu dar um passeio de avião ao Ribatejo para ir apanhar melões, mas na tentativa de aterragem sofreu um acidente tendo o avião ficado partido bem como as pernas do passageiro, o Pcb Costa Pereira, que aliciara para a aventura.
O Comandante da BA1, TCor Filipe Gomes Vieira quis saber como era possível, dois mecânicos andarem a voar num avião do ACP durante as horas de serviço e mandou instaurar um processo de averiguações do que resultou descobrir-se toda esta trama.
O Comandante puniu PI com 10 dias de prisão disciplinar agravada, o que foi agravado para 20 dias, pelo Comandante Geral da Aeronáutica Militar. Tal castigo, à luz da legislação de então, obrigava o punido a abandonar as fileiras. PI jurou vingança.
Como gozava de fama de ser competente como mecânico rapidamente arranjou emprego, sendo admitido na Companhia Aérea KLM, em Lisboa.
Em 10 de Abril de 1947 teve epilogo um movimento de contestação ao “Estado Novo” onde estava implicado o Brigadeiro de Aeronáutica António de Sousa Maia.
PI ter-se-á ligado a este movimento por ver aí a oportunidade de satisfazer o seu desejo de vingança. Aparentemente foi aliciado para a acção por um ex-tenente Quintão, após encontro com este na Praça do Chile (o que PI mais tarde viria a negar). Deste modo o nosso “herói” foi encarregue de sabotar os aviões da BA1, tendo-lhe sido acenado com uma posterior promoção a major.
Assim, na noite de 9 para 10 de Abril de 1947, PI cortou (ou serrou) os cabos de comando a vários aviões "Tiger Moth", "T-6" e "DC3", num total de 35. No caso participou o Pcab mecânico Gabriel Gomes (não por ser revolucionário, mas por ser amigo de PI) que o introduziu e retirou do hangar.
A conjura, onde também esteve implicado o cidadão João Lopes Soares (pai do Dr. Mário Soares), falhou e PI ficou a monte. O TCor Vieira acabou por não ir frequentar o curso de promoção …
Por curiosidade refira-se que PI tinha um irmão mais novo, Jaime Inácio da Palma, que fez carreira na FA como mecânico de material aéreo. Mas em tudo diferia do irmão e não concordava “com os seus métodos de actuação”.
E foi assim que começou a vida “revolucionária” e “romântica” deste ícone do “reviralho”.
De facto algumas das suas acções ficaram célebres, mas não pelas melhores razões. Ao fim e ao cabo, que feitos dignos de nota, conseguiu PI?
Já analisámos a participação na conspiração de 1947, que resultou em prisão, fuga e exílio. A partir daqui PI deambulou um pouco pelo mundo, até que em 1959 conhece Humberto Delgado e Henrique Galvão, no Brasil. Volta à conspiração.
Em 11 de Novembro de 1961 assalta e desvia o "Super Constellation" da TAP que fazia o percurso Casablanca/Lisboa, com o objectivo de lançar panfletos sobre Lisboa, o que consegue. Daqui nada resulta na prática para além de um embaraço para o governo de Lisboa. Mas inaugurou a época da pirataria aérea moderna (como a seguir aconteceria no mar com o assalto ao paquete Santa Maria – nós temos que estar na vanguarda de algo!) que tantas dores de cabeça têm dado ao mundo em geral e ao Ocidente em particular.
Resta ainda saber até que ponto é lícito e moral arriscar a vida de cidadãos comuns e pôr em causa bens nacionais, para beneficiar ideias políticas ou personalidades, que estavam longe de colher apoio ou simpatia na esmagadora maioria dos portugueses.
Um ano antes do seu passamento o jornal “Correio da Manhã” promoveu um encontro entre este elemento “antifascista” e o então comandante Marcelino, e a chefe do pessoal de cabine. Foi uma festa! Há gente que não tem mesmo vergonha na cara…
De Marrocos, cujas autoridades se recusaram a extraditá-lo, parte novamente para o mundo. E regressa à conspiração.
A ausência leva alguns anos e devem-se ter esquecido dele. Até que no dia 17 de Maio de 1967, reaparece à frente de uma quadrilha – que lhe devemos chamar? - e assalta a dependência do Banco de Portugal na Figueira da Foz. Roubam 28.000 contos, uma fortuna para a época. A fuga é aparatosa e acaba em Paris.
A PIDE põe-se em campo e através do rasto de notas deixadas pelo caminho levam as autoridades francesas a prendê-lo. É então que entra em cena um elemento da oposição dita democrática, com provas dadas de seriedade, o Dr. Emídio Guerreiro e que inventa a criação da LUAR, a fim de dar um cariz politico ao roubo e assim evitar a extradição do preso para Lisboa. É deste modo que é criada a LUAR, em 19 de Junho de 1967, um mês após a “Operação Mondego”. Com este argumento as autoridades francesas impediram a entrega de PI à justiça portuguesa. A PIDE infiltra entretanto a LUAR e consegue recuperar 22.000 contos do dinheiro roubado, em duas "tranches" de 11.000. 3.000 contos tinham sido gastos pelos “amigos do alheio” e 3.000 foram entregues a Emídio Guerreiro que os depositou numa conta na Suíça. Quando se dá a “Revolução dos Cravos”, 1500 contos que restavam desta última quantia, foram entregues por Emídio Guerreiro a PI para serem entregues ao Banco de Portugal, mas desapareceram. E este é um dos episódios que levaram estes dois personagens a, mais tarde, acusarem-se mutuamente e irem a tribunal.
De tudo resultou ser PI o último preso a ser libertado de Caxias após o 25 de Abril, já que muitos o consideravam um preso de delito comum. Resta ainda acrescentar que a LUAR ainda realizou em França e Luxemburgo assaltos à mão armada a carrinhas que carregavam as economias dos nossos emigrantes.
Ainda hoje não há conhecimento de quais as actividades levadas a cabo contra o regime de Salazar, com o produto destes roubos … Aliás o insuspeito Jaime Serra (da ARA - Acção Revolucionária Armada) acusou a LUAR, em entrevista ao DN de 13/2/99, de “ter cometido actos criminosos a coberto de motivações políticas”.
PI volta a aparecer no ano seguinte em Portugal sendo o objectivo agora tomar a cidade da Covilhã com meia dúzia de novatos. A operação que ninguém sabe explicar como se fazia ou para que serviria, nem se desencadeia, sendo o grupo preso pela polícia. Nova fuga e exílio.
Finalmente infiltra-se novamente no continente com o intuito de raptar figuras políticas, a fim de serem trocadas por presos políticos. De novo é preso e assim fica até ser libertado pelos revolucionários de Abril de 74.
De facto PI nunca conseguiu nada a não ser manchar o seu nome com o epíteto de traidor, pois realizou acções que objectivamente favoreceram os inimigos do seu país, que então desenvolvia extensas operações militares de contra guerrilha e afirmação de soberania. PI não tinha, aparentemente, ideário político, nunca escreveu um manifesto e não se lhe conhece uma ideia. A única coisa que mostrou competência foi em fugir das prisões.
Foi este personagem que esta terceira República elegeu como herói e referência nacional, que o então PR Mário Soares quis atribuir a Ordem da Liberdade, ao que se opuseram toda a Casa Militar e não só. Mário Soares não se atreveu a levar por diante a sua intenção - estranha-se pois os elogios que só na data da morte assumiu na sua plenitude – a qual só foi concretizada pelo seu sucessor, Jorge Sampaio, no ano 2000, mas a que nem sequer se deu à decência de assumir, estando presente, deixando o encargo ao vate Alegre.
A necessidade de presentear PI com uma pensão (paga por todos nós) parece ter sido o motivo principal para lhe atribuir a comenda, já que pelos vistos o irrequieto Inácio tinha uma má relação com o dinheiro e não apreciava muito emprego das nove às cinco.
“Mutatis Mutandis”, a maioria do povo português que nunca lhe passou pela cabeça aprovar as diatribes criminosas de semelhante abencerragem, foi condecorada com um atestado de reprovação e censura.
O Partido Socialista obsequiou-o e está-lhe reverente e obrigado. Estamos elucidados.
Aguardamos, pois, em jubilosa esperança, a transladação deste digno descendente de Gamas, Albuquerques e Cabrais, para o lugar que sem dúvida alguma merece, no Panteão Nacional.

João José Brandão Ferreira
Oficial Piloto Aviador


sexta-feira, 1 de maio de 2015

DEGRADAÇÃO

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Tacticamente tudo se percebe. Do ponto de vista da baixa táctica política até a coisa parece habilidosa.
Desde 2011 que nenhuma sondagem dá maioria absoluta ao Partido Socialista. Donde se segue que para aguentar um governo minoritário – principalmente um que se pretende reformista – é preciso um Presidente cúmplice, muito mais cúmplice do que foi Cavaco com o CDS e o PSD. Mas para ser elegível esse Presidente não pode ter a mais leve animosidade do PC, do Bloco e da poeira dos pequenos grupos da extrema-esquerda. Ora, como ao fim de 40 anos não há gente dessa, a franja radical do PS acabou por inventar uma não-pessoa, um saco vazio onde venha donde vier qualquer militante ou simples simpatizante não se importará de meter o seu voto: no caso o sr. Sampaio da Nóvoa.
Meia dúzia de homens de músculo político agarraram na criatura e resolveram enfiar a dita sem grande cerimónia pela goela aberta de um povo miserável e de uma “classe dirigente” sem destino ou vergonha. Claro que os socialistas nunca na vida mostraram o menor escrúpulo em organizar esta espécie de operação. Basta lembrar que o dr. António Costa tomou o partido de assalto com uma grande dose de brutalidade e demagogia, perante a equanimidade e o deleite dos seus queridíssimos camaradas. Agora, a ideia é fazer o mesmo com o país: a tradição ajuda. Soares como Sampaio estão ali para o trabalho sujo. Sampaio com o vácuo de uma cabeça onde nunca entrou nada; Soares com ar rusé, que de quem continua a puxar os fios da intriga. E Manuel Alegre com a sua insofrível jactância e pretensão moral.
O candidato, esse, não conta. Cita Sophia de Mello Breyner, “Zeca” Afonso e Sérgio Godinho, e com esta mistura de um lirismo torpe faz declarações sem propósito ou consequência. Promete (imaginem só) não se “resignar” à “destruição do Estado Social”, à pobreza, ao desemprego, à “exclusão” ou à mais leve força que “ponha em causa a dignidade humana”. Como tenciona fazer isto, não confessa. Promete “agir” com “integridade e honradez”, coisa que deve tranquilizar a populaça já com muito pouco para espremer. E promete, para nossa perplexidade e espanto, não assistir “impávido” à “degradação da nossa vida pública”. Não percebe ele que a sua própria candidatura, fabricada por meia dúzia de maiorais do PS, à revelia dos portugueses (que nem o conhecem), é o mais grave e humilhante sinal da “degradação da nossa vida pública”?
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Vasco Pulido Valente in "Público" (01-05-2015)
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quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

OS AMERICANOS E A BASE DAS LAJES

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A operação das forças militares americanas na Base Aérea das Lajes há muito que merecia um livro.
Muito resumidamente foi assim:
A apetência dos EUA pelos Açores (e Cabo Verde) recua à Guerra Hispano-Americana, de 1898, que marca o início do imperialismo “yankee” fora do Continente Americano, o que nunca mais parou até hoje.
Prolongou-se na I Guerra Mundial, com a ameaça submarina alemã e a visita do futuro presidente Roosevelt (na altura Subsecretário de Estado da Marinha), em 1918, e firmou-se na II Guerra Mundial, por causa da ameaça naval alemã – podia ter sido aero - naval caso a Alemanha tivesse intentado e conseguido ocupar aquele arquipélago e também o da Madeira.
Mas quem, de facto, pensou ocupar os Açores – considerados como uma fronteira avançada de defesa da América – foram os próprios americanos, que chegaram a preparar uma invasão e ocupação do território, em Jul/Ago de 1941 (Operação “Life Buey”, comandada pelo Brig. Gen. Holland Smith).
Acontece que o Governo Português da altura – estrénuo defensor dos interesses portugueses – tinha reforçado o Açores com 25.000 homens e alguns meios aéreos e navais, dispondo-se a garantir a neutralidade proclamada, mesmo com o uso da força.
Os americanos fizeram um cálculo do risco e das baixas e hesitaram.
Mais experientes do que os seus amigos do outro lado do Atlântico, a diplomacia inglesa, valendo-se do especial relacionamento que tem connosco, desde 1373, veio tentar acalmar os ânimos e negociar uma solução adequada, até porque o governo português, num gesto habilíssimo, ameaçou invocar a velha Aliança em caso de ataque americano…
Destas negociações que foram duras e demoradas resultou a ida dos ingleses para as Lajes e, mais tarde, a dos americanos para S. Maria, com a condição de no fim da guerra saírem, deixarem-nos todas as instalações, garantirem a soberania portuguesa em todos os territórios ultramarinos e, ainda, a garantia que Timor Leste – ocupado pelos japoneses - voltaria para Portugal e que forças portuguesas participariam na libertação do território.
Tudo foi cumprido.
Em 1948 (ano anterior ao estabelecimento da OTAN) os EUA solicitaram facilidades de operação na Base Aérea 4 nas Lajes, o que foi concedido, até hoje.
A Base das Lajes pertence à Força Aérea Portuguesa.
Deste modo estabeleceu-se um destacamento da Marinha dos EUA – que operavam os aviões – outro da USAF – que operavam os meios de apoio terrestre – e do Exército Americano - que operavam as lanchas e equipamento portuário…  
E como o governo de Lisboa, da altura, não brincava em serviço e não deixava que estrangeiros nos ditassem leis, logo acordou com Washington, um conjunto de condições que, além de não comprometerem minimamente a soberania nacional, tornavam os EUA completamente devedores de Portugal, pois não pagavam um dólar por lá estarem.
Tal facto devia-se a que a lógica política de então defendia, por ex., que nenhum pedaço de território nacional podia ser alugado…
Foi criado um Comando Aéreo Português, cujo comandante seria sempre mais antigo que o oficial americano mais graduado e, até, a bandeira americana não estava autorizada (creio que ainda não está) a tocar o solo Pátrio, ficando simbolicamente, assente num bloco de pedra para o efeito concebido.
Marcello Caetano que sucedeu a Salazar na chefia do governo, mudou a postura portuguesa para com os EUA, relativamente às Lajes, negociando contrapartidas materiais pela presença americana, o que se podia consubstanciar em ajuda económica directa ao Arquipélago, melhoria das condições dos trabalhadores portugueses e, sobretudo, em armamento e equipamento militar, de que as Forças Armadas Portuguesas estavam muito carenciadas devido aos conflitos ultramarinos iniciados em 1961.
Esta nova política acabou por não dar grandes frutos, sofrendo Portugal uma espécie de “ultimato” encapotado, relativamente ao uso indiscriminado da base, no socorro que Washington prestou a Israel na Guerra do Yom Kipur, em 1973.
A importância dos Açores nunca diminuiu para os EUA durante toda a “Guerra Fria”, por causa do eventual reforço rápido da Europa, da ameaça submarina soviética, além de ser ponto de apoio importante para aviões em rota para o Médio Oriente.
Com a queda do “Muro de Berlim”, em 1989, e a evolução geopolítica daí decorrente; a melhoria dos armamentos e, ultimamente, a mudança de prioridades de Washington para o Pacífico, a importância conjuntural da Base das Lajes perdeu valor relativo para os americanos.
Daí a natural mudança do seu dispositivo.
Por isso é lógico que queiram reduzir a sua presença nas Lajes (em 485 pessoas) mas, estamos em crer, jamais a Secretaria de Estado da Defesa dos EUA, quererá sair de lá de vez…
É claro que esta redução vai constituir um duro golpe na economia da Ilha Terceira e levar ao desemprego estimado de 500 trabalhadores portugueses, cujo vínculo se procurava articular com as leis de trabalho nacionais.
Mas temos que perceber que os americanos não estão lá pelos nossos lindos olhos e tratam de defender os seus interesses e não os alheios.
Os Açores já tinham sofrido um duro golpe aquando da saída dos franceses da base de rastreio de misseis, que montaram na Ilha das Flores, em 1993, sem que tivesse ocorrido o alarido de agora.
Pacífica e gradual foi, também, a saída dos alemães da base de Beja, em 1993.2
Por tudo isto não se entende o actual “histerismo” de políticos e sobretudo do Governo Regional dos Açores, à volta deste assunto, revelando uma grande falta de sentido de Estado e em nada contribuindo para um bom desfecho do que está em curso e para as futuras relações com os EUA.
A ameaça velada e pública, sobre a possibilidade da China (ou outros) poder vir a operar no Arquipélago é, a todos os títulos, deplorável.
Há coisas que se tratam na circunspecção das chancelarias e não no ruído e demagogia da rua.
Um contrato é um vínculo de interesses comuns, entre duas ou mais partes. Se uma das partes se quiser desvincular, só tem que o fazer negociando tal desiderato em função do que estiver vertido no acordo.
Além do mais este é um assunto de Defesa e Segurança Nacionais, tratado estado a estado e, por isso, o Governo Regional, deve-se remeter apenas para as suas funções constitucionais.3
Nós podemos, eventualmente, gostar mais ou menos da presença americana nas Lages, mas a decisão da sua diminuição ultrapassa-nos. A não ser que fossemos nós a querer impor essa redução. Pode (e eventualmente deve) Lisboa mostrar as suas preocupações; oferecer a sua hospitalidade; apresentar outras propostas de relacionamento bilateral, etc., mas não pode exigir nada relativamente à presença americana na Base, a não ser o que está estritamente acordado para o efeito, e ficar com as decisões ora tomadas, em carteira.
A algaraviada de exigências propaladas pelos “média” não passam de ruído ineficaz, apenas explicáveis pela eterna luta partidária.  
Temos que estar atentos ao comportamento do FMI e do Banco Mundial, onde os EUA pontificam, cuidar da nossa comunidade emigrante naquele país e ter que ter especial cuidado com a atitude que os americanos irão assumir, na ONU, face à proposta de alargamento da Plataforma Continental, apresentada por Portugal.
E, curiosamente, não vemos ninguém preocupado com a exiguidade (sempre a diminuir…), de meios militares portugueses no (s) Arquipélago (s) e na necessidade urgente de inverter a situação.
Requerem-se bom senso e clarividência política e estratégica.
Uma coisa – além do “saber”- anda, aliás, ligada à outra.
  
João José Brandão Ferreira

Oficial Piloto Aviador
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segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

'MEIN KAMPF'

[...] The moral and physical cleanliness of this race was
a point in itself. It was externally apparent that these
were not water-loving people, and unfortunately one could
frequently tell that even with eyes closed. Later the smell
of these caftan wearers often made me ill. Added to this
were their dirty clothes and their none too heroic appear-
ance.

Perhaps all this was not very attractive; aside from the
physical uncleanliness, it was repelling suddenly to discover
the moral blemishes of the chosen people.

Nothing gave me more cause for reflection than the
gradually increased insight into the activities of Jews in
certain fields.

Was there any form of filth or profligacy, above all in
cultural life, in which at least one Jew did not partici-
pate?

When carefully cutting open such a growth, one could
tind a little Jew, blinded by the sudden light, like a maggot
in a rotting corpse.

The Jews' activity in the press, in art, literature, and the
theater, as I learned to know it, did not add to their credit. [...]

sábado, 3 de janeiro de 2015

CORRUPÇÃO - É LEGÍTIMO SUPOR

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A propósito da detenção de José Sócrates, recordo por estes dias vários momentos da vida política do país e do exercício do jornalismo em Portugal.
5 de Janeiro de 2009.
No final do primeiro mandato e já em ano de eleições legislativas, o primeiro Ministro aceita dar uma entrevista televisiva à SIC, conduzida por mim e por Ricardo Costa.
No decurso da conversa tensa, crispada, José Sócrates é confrontado com um gráfico do próprio orçamento de Estado de 2009, que mostra o verdadeiro impacto das sete novas subconcessões rodoviárias em regime de parceria público privada: a conta a cargo do contribuinte é astronómica, mas só comecará a ser paga...em 2014.
A reação do político é de surpresa desagradável de falta de argumentos rápidos, pela primeira vez em muitos momentos de confronto jornalístico com a realidade das políticas que estavam a ser lançadas como "as melhores para o país", sem alternativa válida. Na mesma entrevista, Ricardo Costa questiona o então primeiro Ministro sobre o verdadeiro impacto da política para o setor energético, que estava a invadir a paisagem com milhares de "ventoinhas" eólicas. A reação evoluiu da surpresa negativa para a agressividade.
No balanço dessa entrevista, boa parte do país "bem pensante" insurgiu-se contra...os jornalistas. Os nomes que então nos chamaram estão ainda na internet, basta fazer uma pesquisa rápida.
Nesse ano de 2009, o Governo tinha lançado um pacote de estímulo à economia no valor de dois mil milhões de euros  obtidos a crédito no exterior porque nem Estado nem privados tinham já poupança interna suficiente.
A maior parte do mega-investimento foi aplicada na renovação de escolas através da Parque Escolar. Uma crise decorrente de um brutal endividamento combatia-se com mais dívida.
No ano anterior, a Estradas de Portugal tinham visto os seus estatutos alterados por iniciativa do Governo.
Passava a ser uma entidade com toda a liberdade para se endividar diretamente, sem limite. Ao então primeiro Ministro, ao Ministro da tutela, ao secretário de Estado das obras públicas, perguntei muitas vezes em público se sabiam o que estavam a fazer. E fui publicamente contestado por andar a "puxar o país para baixo".
Em 2007, o então Ministro da Economia cedia por 700 milhões de euros a extensão da exploração de dezenas de barragens por mais 15 a 25 anos à EDP. Os próprios relatórios dos bancos de investimento valorizavam na altura esta extensão em mais de dois mil milhões de euros.
A meados de 2009 começa a ouvir-se falar do interesse da PT em comprar a TVI. O negócio é justificado pela administração da empresa como uma necessidade de as operadoras de telecomunicações, distribuidoras de conteúdos avançarem para o controlo da produção desses mesmos conteúdos.
Por aquela altura, já os casos, dos projetos da Cova da Beira, da licenciatura duvidosa e das alegadas luvas no Freeport faziam as páginas dos jornais e aberturas nas televisões.
Por aquela altura, o jornalista e gestor Luís Marques, dizia-me que era uma vergonha nacional Portugal ter um primeiro Ministro com indícios de ser corrupto. E que a nível internacional isso também já era notado.
Confesso que apesar das dúvidas que tinha sobre a condução dos grandes negócios de Estado, achei exagerada a afirmação. Sublinho a altura em que foi feita - finais de 2009.
O tempo, esse grande clarificador, fez o seu trabalho. 
Muitas mais histórias ouvimos desde então sobre a mesma personalidade política.
Muitas investigações que já estavam em curso foram aprofundadas; muitas novas investigações foram iniciadas.
Desde há muito que está a ser questionada a legalidade da atribuição de concessões de barragens por valores irrisórios; que está a ser investigada a suspeita de favorecimento de decisores no processo das PPP rodoviárias; que foi investigada e estranhamente arquivada a suspeita d controlo deliberado da comunicação social através da compra de um grande grupo de comunicação social por uma empresa do regime; que se continuam a investigar a razoabilidade dos mega-investimentos em novas escolas e dos pagamentos avultados a determinados fornecedores...
Outras histórias mal-explicadas, como a da origem dos recursos para manter multiplicados sinais exteriores de riqueza, foram correndo o seu tempo e os seus termos, com ou sem intervenção das entidades de investigação...O tempo, esse grande clarificador, faz sempre o seu trabalho.
A suspeita materializa-se agora sob a forma de detenção e prolongado interrogatório. A imprensa, desde sempre acusada de conspiração, destapa agora indícios de inquietantes de conluios com recetadores e correios de verbas muito avultadas.
Só se surpreende quem não quis ver os sinais.
É legítimo supor que mais investigações levarão a mais resultados. É legítimo perguntar porque é que no ano 2010 aparecem 20 milhões de euros na conta de um amigo na UBS, na Suíça. E é legítimo lembrar que em Julho desse ano a PT vendeu a Vivo à Telefónica por 7.500 milhões de euros. E é legítimo imaginar que negócios desse tipo requeiram "facilitadores".
Face ao que aconteceu na história recente deste país, é legítimo a um jornalista e a qualquer cidadão interrogar-se sobre tudo isto e muito mais.
E é extraordinário ver que a maior parte do tempo de debate sobre esta mediática detenção é gasta em condenações à maneira de atuar das autoridades judiciais. Como se fosse dever dos investigadores convidarem o suspeito para uma conversa amena num agradável bar de hotel, por ter ocupado o cargo que ocupou.
Não, o que está a acontecer em Portugal, com a queda do Grupo Espírito Santo e de Ricardo Salgado, as detenções de altos funcionários públicos no caso dos Vistos Gold e a detenção de José Sócrates, não é uma desgraça: é a Grande Clarificação do Regime, a derrocada do Crony Capitalism, o capitalismo lusitano dos favores e do compadrio.
É revoltante saber que o Parlamento aprovou sem hesitar todos os regimes especiais de regularização tributária, os RERT I, II e III, quando sabiam que a respetiva formulação jurídica iria apagar todos os crimes fiscais associados à repatriação do dinheiro de origem obscura que tinha sido posto lá fora. Os deputados foram previamente avisados desse gigantesco efeito de "esponja" pelos mesmos altos responsáveis tributários que me avisaram a mim...
Os mesmos RERT que passaram uma esponja sobre as verbas de Ricardo Salgado e as do recetador agora identificado no caso do ex-primeiro Ministro.
Sim, o Parlamento continua lamentavelmente a ser a mesma central de interesses.
Mas há esperança. Tal como o país está a mudar, o Parlamento também há de mudar.
A nós, cidadãos e jornalistas, assiste o direito de fazer perguntas, face a sinais estranhos que alguns políticos insistem em transmitir.
Face a esses sinais, é legítimo supor.
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