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quinta-feira, 27 de junho de 2013

quinta-feira, 20 de junho de 2013

CARTA A AGUARDAR PUBLICAÇÃO PELO 'EXPRESSO'

Aposentados, pensionistas e reformados - A nossa história não acaba assim!

Texto de uma carta enviada pela APRE! ao Expresso e que não foi publicada

Os aposentados, pensionistas e reformados têm uma história, da qual se devem orgulhar. (.......)
Com efeito, os actuais pensionistas portugueses nasceram antes, durante ou pouco depois da 2ª Guerra Mundial, numa sociedade essencialmente agrícola, com um elevadíssimo índice de analfabetismo. Mais tarde enfrentaram uma guerra colonial, em 4 frentes:  Angola, Moçambique, Guiné e Timor. Quis o destino que a nossa vida fosse consumida a implantar a democracia, a realizar a descolonização, a construir a sociedade industrial e depois a sociedade de serviços; a transformar o analfabetismo em conhecimento e ciência, substituindo os quartéis militares por universidades e politécnicos, dispersos pelo país. O prémio de todo o nosso esforço parecia estar na adesão à então CEE, actual União Europeia, com uma tal energia e entusiasmo que integrámos o pelotão da frente da moeda única, o euro.
Quando hoje se diz que a actual geração jovem do país é a melhor preparada de sempre, está-se a dizer que nunca antes os pais preparam a sociedade e investiram tanto nos filhos, para lhes dar um futuro que os próprios pais não tiveram.
Quando os jovens se queixam de pagar impostos e a segurança social para pagarem as pensões dos actuais pensionistas, esquecem-se que os pais podiam não ter investido neles e egoisticamente terem poupando para a sua reforma.
Quando hoje uns senhores de ideologia liberal dizem que o Estado não produz riqueza para pagar as reformas, estão a dizer que não querem pagar impostos para gente que não produz, constituindo uma espécie de resíduo social, esquecendo-se dos benefícios que usufruem, em consequência das transformações sociais que levamos a efeito.
Quando hoje se diz que para atingir as metas orçamentais impostas pela TROIKA, sob caução do Governo, tem de se cortar na despesa social, esquecem-se que a despesa social e os vínculos legalmente constituídos já existiam quando tomaram a decisão de atingir tais metas. Governantes sérios e honestos não podem decidir e assumir compromissos com terceiros que não possam cumprir. Os governantes não são proprietários do poder, desses tratámos nós, os governos governam em nome do povo. (.......)

É lamentável a máquina que está montada na comunicação social contra os reformados, pobres ou da classe média. Jornalistas, analistas e comentadores apelando a cortes sobre cortes, achincalhando a Constituição (que também já existia antes de assumirem compromissos irrealistas), implorando à sua violação, esquecem-se que estão a «cavar a sua própria sepultura». Um Estado, integrado na União Europeia, é obrigado a agir de
boa fé, como uma pessoa de bem. Um Estado que agora viola princípios e desrespeita direitos, passa a violar sempre e a desrespeitar sempre que isso lhe convém.
Nós não admitiremos que governantes inexperientes, idealistas e manipuladores políticos desrespeitem os nossos direitos, conquistados ao longo duma vida de trabalho e de transformação social. Seremos coerentes com a nossa história, seria triste, muito triste, se ela acabasse assim.

Maria do Rosário Gama, Presidente da Direcção da Apre!

Carlos Frade, Presidente do Conselho Fiscal da Apre!

quarta-feira, 12 de junho de 2013

EU, LÁPIS


Leonard E. Reed

Eu sou um lápis — aquele tipo comum conhecido por todos os meninos, meninas e
adultos que sabem ler e escrever.
A escrita é tanto a minha vocação quanto a minha ocupação; escrever é tudo o que faço.
Você deve estar imaginando porque devo escrever sobre a minha árvore genealógica.
Bem, para começar, minha estória é interessante. Assim como também sou um mistério
— mais até do que uma árvore, do pôr do sol ou mesmo de um relâmpago. Mas,
infelizmente, eu sou ignorado por aqueles que me usam, como se eu fosse um mero
“acidente de percurso” e sem história. Essa atitude superficial me relega ao lugar comum.
Esse é um tipo de erro gravíssimo que a humanidade não pode persistir por muito mais
tempo sob o risco da derrocada total. Como observou o sábio G. K. Chesterton, “We are
perishing for want of wonder, not for want of wonders”1.
Eu, o lápis, ainda que aparentemente simples, mereço a sua admiração e respeito, o que
tentarei te provar. Na realidade, se você me entender — não, isso é demais de pedir de
qualquer um — se você puder perceber o milagre que eu simbolizo, você poderá me ajudar
a recuperar a liberdade que a humanidade está aos poucos perdendo. Eu tenho uma lição
muito importante para te ensinar. E eu posso te ensinar essa lição com mais facilidade que
um automóvel, ou avião, ou máquina de lavar louça poderia — bem, porque eu sou
aparentemente muito simples.
Simples? Será? Não há nenhuma pessoa na face da terra que saiba me fazer. Soa
fantástico, não? Especialmente se você souber que mais ou menos 1.5 bilhões de lápis
como eu são produzidos anualmente apenas nos Estados Unidos.
Pegue-me e me examine. O que você vê? Não muito, há alguma madeira, laquê,
“grafite”, um rótulo impresso, um pouco de metal e uma borracha.

Inúmeros Antecedentes

Da mesma forma que você não consegue retroceder na sua árvore genealógica
indefinidamente, também me é impossível enumerar e explicar todos os meus antecedentes.
Mas eu gostaria apenas de exemplificar alguns deles para lhes impressionar com a minha
riqueza e complexidade dos meus ancestrais.
Minha árvore genealógica começa com uma árvore, um cedro de fibras retas que cresce no
norte da Califórnia e em Oregon. Agora contemple todas as serras, tratores, cordas e
incontáveis outros equipamentos utilizados na coleta e transporte dos troncos de madeira
até a estrada de ferro. Pense agora em todas as pessoas e incontáveis habilidades que
foram necessárias para a fabricação desses equipamentos: a mineração do ferro, a
fabricação do aço e a transformação deste em serras, machados e motores; o cultivo do
sisal e todo o seu processo de transformação em cordas fortes e resistentes; pense ainda
nas áreas de corte dos troncos de cedro onde os lenhadores dormem em camas e têm as
suas refeições servidas em grandes mesas em salas ainda maiores, o cozimento e cultivo
de toda a comida necessária para alimentar a todos. Afirmo, milhares de anônimos são
responsáveis por cada copo de café que os lenhadores bebem.
Os troncos são enviados por trem para uma serraria em San Leandro, Califórnia. Você
pode imaginar os indivíduos que fazem os vagões de trem, os trilhos, e as locomotivas e
que constroem e instalam todo o sistema de comunicação necessário para que tudo
funcione? Essas legiões de pessoas são também meus ancestrais.
Considere agora a serraria em San Leandro, Califórnia. Os troncos de cedro são cortados
em pequenos pedaços de madeira do tamanho de um lápis, não mais que um quarto de
polegada2 de espessura. Esses pedaços então são secos em estufas e pintados pela mesma
razão que mulheres colocam ruge em suas faces. As pessoas me preferem mais bonito que
um branco pálido. Os pedaços de madeira são novamente encerados e novamente secos em
estufas. Quantas habilidades foram necessários para fazer todas as tintas, as estufas, o
fornecimento de calor, luz, energia, as correias, os motores, e tudo o mais que uma serraria
necessita? As pessoas que varrem o lixo e o pó de serra que trabalham em uma serraria
entre os meus ancestrais? Sim, e incluo ainda os homens que colocam concreto para a
represa da Companhia Elétrica e de Gás Pacífico que supre energia elétrica para a serraria.
Não esqueça dos meus ancestrais atuais e distantes que transportam sessenta caminhões
com pequenos pedaços de madeira por todo o país.
Já na fábrica de lápis — US$ 4.000.000,00 em equipamentos e instalações, capital esse
acumulado pela poupança de meus e seus parentes — cada pedaço de madeira recebe oito
faixas colocadas por uma máquina complexa, onde a seguir outra máquina coloca grafite
em um de cada dois pedaços de madeira, coloca cola, e coloca outro pedaço de madeira por
cima, um sanduíche de grafite, vamos chamar assim. Sete irmãos e eu somos
mecanicamente esculpidos desse “sanduíche de madeira”.
Considere agora o meu “grafite”. Ele também é muito complexo. O grafite é extraído do
Ceilão. Considere os mineiros e aqueles que fazem os equipamentos de mineração, e os
que fazem os sacos de papel em que o grafite é transportado, e aqueles que fazem as
cordas utilizadas para fechar esses sacos, e aqueles que colocam os sacos nos navios, e
aqueles que fazem os navios. Até os faroleiros no caminho ajudaram no meu nascimento
— e os práticos de cada porto.
O grafite é misturado com argila do Mississipi em que hidróxido de amônia é utilizado no
processo de refino. Agentes humedecedores são adicionados — uma mistura de gordura
animal reagida quimicamente com ácido sulfúrico. Após passar por inúmeras máquinas, a
mistura finalmente sai como quando se faz lingüiça, um longo e infinito material que é
cortado, seco e colocado em um forno a temperatura de 1.850 oF3 por várias horas. Para
aumentar a sua resistência e maciez o “grafite” é tratado com uma mistura quente que
inclui uma cera do México, parafina e é hidrogenado com gorduras naturais.
Meu cedro recebe seis camadas de laquê. Você conhece todos os ingredientes do laquê?
Quem iria imaginar que os fazendeiros que cultivam a planta “castor”4 (venenosa
inclusive) e os que refinam o óleo dessa mesma planta fossem também meus parentes?
Pois eles são. Ainda mais, até os processos que transformam o laquê em um colorido
amarelo envolve as habilidades de muito mais pessoas que uma pessoa pode enumerar.
Observe agora o rótulo. Ë um filme formado através da aplicação de calor em um carbono
negro misturado com várias resinas. Como é feita a resina e, pelo amor de Deus,
o que é carbono negro?
Meu pequeno pedaço de metal é na realidade bronze. Pense em todos aqueles que
mineraram o zinco e o cobre, e aqueles que têm a habilidade para fazer lâminas brilhantes
de cobre desses materiais extraídos da natureza. Os anéis pretos que rodeiam a minha forma
são feitos de níquel negro. O que é níquel negro e como ele é colocado ali? A razão porque
o meu pedaço de metal não têm níquel negro no centro levaria páginas para explicar.
Finalmente há a minha coroa, a parte que o homem usa para apagar os seus erros. Um
ingrediente chamado “factice”5 é o material que realmente faz a mágica do “desaparecer”. É
um produto borrachoso feito a partir da reação de um óleo das Índias Holandesas
Ocidentais com clorido sulfúrico. A borracha, ao contrário do que se imagina, serve
apenas para “colar” o material. Há ainda inúmeros outros agentes vulcanizadores e
aceleradores. Uns vem da Itália; o pigmento que dá a cor à minha coroa é na realidade
sulfídio de cádmio.

Ninguém Sabe

Alguém ainda duvida, como disse logo no início, que não há ninguém nesse mundo que
saiba me fazer?
Na realidade milhões de pessoas contribuem para a minha criação, e poucos conhecem
outros daqueles que contribuem para a minha existência. Agora, você pode achar que eu
estou exagerando quando eu relaciono a pessoa que colhe café no Brasil (a bebida dos
lenhadores no Oregon e norte da Califórnia), os cultivadores de comida em vários outros
países à minha criação. Eu mantenho a minha posição. Não existe uma única pessoa,
dentre essas milhões, incluindo o presidente da companhia que fabrica o lápis, cuja
contribuição técnica é apenas infinitesimal que saiba como me fazer. Do ponto de vista do
“know-how” a única diferença entre o minerador de grafite no Ceilão e o lenhador no
Oregon, é o tipo de “know-how” que se têm. Nem o minerador nem o lenhador podem
ser dispensados do processo, da mesma forma que o químico na fábrica e o trabalhador
nos campos de petróleo também não podem — a parafina é um sub-produto do petróleo, e
parafina também compõe o que sou — o lápis.
Aqui vai um fato impressionante: nem o trabalhador nos campos petrolíferos, nem o
químico, nem o minerador de grafite, nem o indivíduo que coleta argila no Mississipi, nem
ninguém que constrói o navio, o trem, o trator, o caminhão, ou os dirige, nem o operário
que entorta o pedaço de bronze que me envolve, nem o presidente da companhia faz o que
faz porque eles me querem. Cada um me quer, talvez menos até que uma criança na
alfabetização. Na realidade, há dentre esses que mencionei aqueles que nunca viram um
lápis ou mesmo sabem usar um. A motivação de cada um desses homens e mulheres é
outra, não eu. Talvez seja algo assim: cada uma dessas milhões de pessoas percebe que eles
podem trocar o pequeníssimo “know-how” que cada um possui pelos bens e serviços que
precisam e/ou querem. Eu posso estar ou não, dentre esses itens.

Não Há Um Supremo Comandante

Existe ainda um fato ainda mais surpreendente. A falta de um coordenador, de alguém
comandando ou dizendo ou impondo aos outros o que cada um deve fazer dentre as
inúmeras atividades já descritas necessárias para que eu me torne o que sou, um lápis.
Nenhum sinal dessa pessoa pode ser encontrado. Ao contrário, o que temos é a mão
invisível em funcionamento. Esse é o mistério a que me referi anteriormente.
Já se disse que apenas “Deus pode fazer uma árvore”. Porquê concordamos com isso?
Não é porque nós não conseguimos fazer uma? Realmente, será que nós conseguimos
descrever uma árvore? Não podemos, a não ser de forma superficial. Podemos dizer, por
exemplo, que uma certa configuração molecular se manifesta na forma de uma árvore.
Mas que tipo de homem seria capaz de saber, ou ainda mais impossível, comandar as
constantes mudanças das moléculas que acontecem no ciclo de vida de uma árvore? Tal
tarefa é simplesmente impensável.
Eu, o lápis, sou uma complexa combinação de milagres: uma árvore, o zinco, cobre, grafite,
etc.. Mas para esses milagres que acontecem na natureza, um milagre ainda maior foi
adicionado: a existência da energia criativa humana — milhões de pequenos “know-hows”
naturalmente e espontaneamente se adequando em reposta às necessidades e desejos
humanos sem a necessidade de um coordenador comandando essas tarefas. Já que apenas
Deus pode fazer uma árvore, eu insisto que apenas Deus pode me fazer. O Homem não tem
o poder de controlar esses milhões de pequenos “know-hows”, da mesma forma que não
consegue comandar as moléculas de forma a criar uma árvore.
Essa última sentença explica o que eu quis dizer quando no início desse artigo eu disse que
: “se você puder perceber o milagre que eu simbolizo, você poderá me ajudar a recuperar a
liberdade que a humanidade está aos poucos perdendo”. Se você perceber que esses
milhões de “know-hows” vão naturalmente, sim, automaticamente combinar entre si e criar
padrões produtivos em resposta às necessidades e desejos humanos; isto é, sem a
necessidade de intervenção governamental ou de qualquer outro tipo de coordenador
coercitivo — então você perceberá um ingrediente essencial na liberdade: a confiança no
homem livre. Liberdade é impossível sem essa crença.
O Governo já teve o monopólio de vários tipos de atividades criativas, como o correio por
exemplo. Muitos acreditam que o homem agindo de forma livre e independente não
consegue, de forma eficiente ou não, distribuir a correspondência de todos os dias, só o
Governo consegue. E aqui está a razão: cada um de nós reconhecemos que não sabemos
como fazer tudo que é necessário para distribuir essa correspondência. Nós também
sabemos que não há ninguém que o saiba. Essas suposições estão corretas. Nenhum
indivíduo possui “know-how” suficiente para distribuir a correspondência de uma nação, da
mesma forma que não existe indivíduo que conheça todos os passos para me construir, um
mero lápis. Então, na ausência de fé em indivíduos livres — no desconhecimento que
milhões de pequenos “know-hows” iriam naturalmente e milagrosamente cooperar entre si
de forma a satisfazer as nossas necessidades — essa pessoa não teria alternativa em
concluir de forma equivocada6 que o correio só pode ser distribuído por um “coordenador
governamental”.

Testemunho

Se eu, o lápis, fosse o único que pudesse testemunhar sobre o que homens e mulheres
podem fazer se forem livres para tal, então aqueles de pouca fé teriam uma pequena
possibilidade de terem razão. Mas o que existe são milhares de testemunhos. A distribuição
de correspondência é extremamente simples se comparada, por exemplo, com a fabricação
de um automóvel, ou uma máquina de calcular, ou um computador, ou uma usina nuclear,
ou dezenas de milhares de outros bens e serviços. E a distribuição, de correspondência ou
de outros tipos? Nessa área o homem consegue distribuir sua voz ao redor do mundo em
menos de 1 segundo; um evento visual ao vivo para a casa de qualquer pessoa; 150 pessoas
de Seattle para Baltimore em menos de 4 horas; gás do Texas para uma casa em Nova
Iorque a valores inacreditavelmente baixos e sem subsídios; 4 libras7 de petróleo do Golfo
Pérsico a costa leste dos Estados Unidos — quase meio planeta terra — por menos que o
Governo cobra para entregar uma carta de 1 onça  de um lado para outro da mesma rua.
A lição que eu tenho para ensinar é a seguinte: deixe todas as energias criativas desinibidas.
Apenas organize a sociedade para agir em harmonia. Faça com que o arcabouço legal de
uma sociedade remova todos os obstáculos. Permita que esses “know-hows” criativos sejam
livres para fluir. Tenha fé que o homem e a mulher livre vão responder à mão invisível.
Essa fé será confirmada. Eu, o lápis, aparentemente simples que sou, ofereço o milagre de
minha criação como testemunho de que essa fé existe, assim como as árvores, o sol, a
chuva e a terra existem.
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terça-feira, 11 de junho de 2013

O ELOGIO DOS PORCOS

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Um agricultor coleccionava cavalos e só lhe faltava uma
 raça particular.

   Um dia ele descobriu que o seu vizinho tinha esse determinado
    cavalo e atazanou-o até conseguir comprá-lo.

      Um mês depois o cavalo adoeceu, e ele chamou o veterinário:

      - Bem, o seu cavalo está com uma virose, é preciso tomar este
medicamento durante 3 dias, no terceiro dia eu retornarei e, caso
      ele não esteja melhor, será necessário matá-lo.

      Alí perto, o porco escutava a conversa toda...

      No dia seguinte deram o medicamento e foram-se embora. 

      O porco aproximou-se do cavalo e disse:

      - Força amigo! Levanta-te daí, senão serás sacrificado!!!

      No segundo dia, deram-lhe o medicamento e foram-se embora.
      O porco aproximou-se do cavalo e disse:

      - Vamos lá amigo, levanta-te senão vais morrer!
      - Vamos lá, eu ajudo-te a levantar... Upa! Um, dois, três. Coragem! Tu vais conseguir!

        No terceiro dia deram-lhe o medicamento e o veterinário disse:
      - Infelizmente, vamos ter que abatê-lo amanhã, pois a virose pode contaminar os outros cavalos.

      - Quando se foram embora, o porco aproximou-se do cavalo e disse:
      - É agora ou nunca, levanta-te depressa! Coragem! Upa! Upa! Confia em ti!
        Isso... com calma! Óptimo, vamos, um, dois, três, agora só mais uma esforço, vá...
        Fantástico! Conseguiste!
        Corre, corre sem medo! Upa! Upa! Upa!!! Tu venceste! Campeão!!!

      Então, de repente o dono chegou, viu o cavalo a correr no campo e gritou:
      
- Milagre!!! Milagre!!! O cavalo melhorou! Isto merece uma festa... 
- Para comemorar 'Vamos matar o porco!!! 
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quinta-feira, 6 de junho de 2013

O CONTO DO VIGÁRIO

Vivia há já não poucos anos, algures, num concelho do Ribatejo, um pequeno lavrador, e negociante de gado, chamado Manuel Peres Vigário.
Da sua qualidade, como diriam os psicólogos práticos, falará o bastante a circunstância que dá princípio a esta narrativa. Chegou uma vez ao pé dele certo fabricante ilegal de notas falsas, e disse-lhe: «Sr. Vigário, tenho aqui umas notazinhas de cem mil réis que me falta passar. O senhor quer? Largo-lhas por vinte mil réis cada uma.» «Deixa ver», disse o Vigário; e depois, reparando logo que eram imperfeitíssimas, rejeitou-as: «Para que quero eu isso?», disse; «isso nem a cegos se passa.» O outro, porém, insistiu; Vigário cedeu um pouco regateando; por fim fez-se negócio de vinte notas, a dez mil réis cada uma.
Sucedeu que dali a dias tinha o Vigário que pagar a uns irmãos negociantes de gado como ele a diferença de uma conta, no valor certo de um conto de réis. No primeiro dia da feira, em a qual se deveria efectuar o pagamento, estavam os dois irmãos jantando numa taberna escura da localidade, quando surgiu pela porta, cambaleando de bêbado, o Manuel Peres Vigário. Sentou-se à mesa deles, e pediu vinho. Daí a um tempo, depois de vária conversa, pouco inteligível da sua parte, lembrou que tinha que pagar-lhes. E, puxando da carteira, perguntou se, se importavam de receber tudo em notas de cinquenta mil réis. Eles disseram que não, e, como a carteira nesse momento se entreabrisse, o mais vigilante dos dois chamou, com um olhar rápido, a atenção do irmão para as notas, que se via que eram de cem. Houve então a troca de outro olhar.
O Manuel Peres, com lentidão, contou tremulamente vinte notas, que entregou. Um dos irmãos guardou-as logo, tendo-as visto contar, nem se perdeu em olhar mais para elas. O vigário continuou a conversa, e, várias vezes, pediu e bebeu mais vinho. Depois, por natural efeito da bebedeira progressiva, disse que queria ter um recibo. Não era uso, mas nenhum dos irmãos fez questão. Ditava ele o recibo, disse, pois queria as coisas todas certas. E ditou o recibo – um recibo de bêbedo, redundante e absurdo: de como em tal dia, a tais horas, na taberna de fulano, e
«estando nós a jantar (e por ali fora com toda a prolixidade frouxa do bêbedo...), tinham eles recebido de Manuel Peres Vigário, do lugar de qualquer coisa, em pagamento de não sei quê, a quantia de um conto de réis em notas de cinquenta mil réis. O recibo foi datado, foi selado, foi assinado. O Vigário meteu-o na carteira, demorou-se mais um pouco, bebeu ainda mais vinho, e daí a um tempo foi-se embora.
Quando, no próprio dia ou no outro, houve ocasião de se trocar a primeira nota, o que ia a recebê-la devolveu-a logo, por escarradamente falsa, e o mesmo fez à segunda e à terceira... E os irmãos, olhando então verdadeiramente para as notas, viram que nem a cegos se poderiam passar.
Queixaram-se à polícia, e foi chamado o Manuel Peres, que, ouvindo atónito o caso, ergueu as mãos ao céu em graças da bebedeira providencial que o havia colhido no dia do pagamento. Sem isso, disse, talvez, embora inocente, estivesse perdido.
Se não fosse ela, explicou, nem pediria recibo, nem com certeza o pediria como aquele que tinha, e apresentou, assinado pelos dois irmãos, e que provava bem que tinha feito o pagamento em notas de cinquenta mil réis. «E se eu tivesse pago em notas de cem», rematou o Vigário «nem eu estava tão bêbedo que pagasse vinte, como estes senhores dizem que têm, nem muito menos eles, que são homens honrados, mas receberiam.» E, como era de justiça foi mandado em paz.
O caso, porém, não pôde ficar secreto; pouco a pouco se espalhou. E a história do «conto de réis do Manuel Vigário» passou, abreviada, para a imortalidade quotidiana, esquecida já da sua origem.
Os imperfeitíssimos imitadores, pessoais como políticos, do mestre ribatejano nunca chegaram, que eu saiba, a qualquer simulacro digno do estratagema exemplar. Por isso é com ternura que relembro o feito deste grande português, e me figuro, em devaneio, que, se há um céu para os hábeis, como constou que o havia para os bons, ali lhe não deve ter faltado o acolhimento dos próprios grandes mestres da Realidade – nem um leve brilho de olhos de Macchiavelli ou Guicciardini, nem um sorriso momentâneo de George Savile, Marquês de Halifax.

Contado por Fernando Pessoa.


(publicado pela primeira vez no diário Sol, Lisboa, ano I, nº 1, de 30/10/1926, com o título de «Um Grande Português». Foi publicado depois no Notícias Ilustrado, 2ª série, Lisboa, 18/08/1929, com o título de «A Origem do Conto do Vigário».
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