Pior que um animal feroz é um animal ferido. O feroz, como se auto intitulou José Sócrates, agia por impulsos, achava-se o único dono da razão e nunca admitia o erro. Conhecemos os resultados. O ferido, situação em que se encontra agora Passos Coelho, como já nada mais tem a perder, age em desespero, esbraceja aleatória e automaticamente apenas para tentar sobreviver. Não sabemos o que fará a seguir e temos de temer o pior.
José Sócrates,
conforme o espirro que desse ou o movimento que fizesse, tinha um comité de
acólitos formado que pronta e imediatamente saltava para o terreno para o
aplaudir. E, com a maior ou a menor gritaria que o assunto justificasse, de
Silva Pereira a José Lello, alguém vinha fazer odes ao chefe.
Passos Coelho,
pelo contrário, está cada vez mais sozinho, isolado. Sabe que o partido, do
qual Marcelo o considera o pior líder de sempre, já só aguarda pelo seu
sacrifício. Sabe que no Governo, ao permitir o adeus de Relvas acusando-o de
ingratidão, a carta de Gaspar revelando a sua falta de liderança, e a subida de
Portas a vice, cedendo à sua chantagem, perdeu toda a legitimidade. Dos
ministros ditos políticos, que deveriam ser os seus guarda-costas, apenas já se
ouve, e em murmúrio, Paula Teixeira da Cruz. Ficou sem apoios, não há quem não
o critique e o futuro é um vazio completo.
Passos não tem
futuro em nenhuma grande instituição europeia, como Durão ou Guterres. Não tem
a arrogância disfarçada de carisma que permitiu a Sócrates o exílio filosófico
em Paris e o regresso pela porta da RTP onde todas as semanas faz uma lavagem
de cérebro ao passado. Nem sequer os dotes oratórios que lhe possam dar o palco
do comentário político, onde proliferam os seus antecessores à frente do
partido. Passos não tem nada. Passos sabe que está no corredor da morte
política.
O que lhe resta
então? Na sua bipolaridade cada vez mais evidente, que num dia o põe a
alimentar todas as expectativas sobre o nosso crescimento económico e no outro
a avisar para o choque de expectativas que teremos com o Orçamento, Passos é o
tal animal ferido na sua dignidade. Fisicamente envelheceu séculos e é a imagem
de alguém que parece carregar aos ombros todo o peso do mundo. Está
verdadeiramente convencido de que está a salvar o país, apesar de todos
sabermos que o País, tal como o conhecemos, pode não lhe sobreviver. De um
líder assim, que sabe que perdido por cem, perdido por mil, pode esperar-se
tudo. Há por isso que ter medo. Muito medo.
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Filomena Martins
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