João
Alberto Correia é arquitecto, maçon, professor e influente nos corredores da
política governativa. O seu pai também era. Também ele se chamava João. João
Rosado Correia, o pai, que morreu em 2002, foi ministro do Equipamento Social
do bloco central sob a liderança de Mário Soares. E também viu o seu nome
envolvido num escândalo. A 15 de Agosto de 1987, dois anos após a sua saída do
Governo, a sua foto aparecia na primeira página do Expresso: “Ex-ministro trouxe
dinheiros de Macau para o PS”. Rosado Correia, revelava o Expresso, estava no aeroporto
de Hong Kong quando foi interceptado por António Vitorino, à época governante
em Macau, que o intimou a devolver três milhões de patacas (300 mil euros) que tinha
em seu poder. A partir daqui as versões divergem. Fonte próxima de Vitorino,
citada pelo Expresso,
garantia que o dinheiro provinha de uma “extorsão” sobre empresários macaenses.
Rosado
Correia dizia que o dinheiro era fruto de uma “colecta de fundos” de que fora
encarregado pelo PS. E acusava Vitorino, indirectamente, por ter impedido o
dinheiro de chegar ao partido, na altura presidido por Vítor Constâncio. Duas
versões opostas e nunca esclarecidas. Até porque o caso nunca foi alvo de
nenhuma acusação. E João, pai, escapou a uma acusação. Mas não voltaria à ribalta
política.
João
Alberto Correia, o filho, também frequentou o Terreiro do Paço, mas apenas como
director-geral de Infra-Estruturas e Equipamentos do Ministério da Administração
Interna. Também ele acabou por sair, entre suspeitas.
Mas não se ficam por aqui as coincidências.
Nos nomes, nos episódios, na formação em arquitectura, no berço alentejano, na
militância socialista. E em algo mais misterioso.
João,
pai, foi grão-mestre do Grande Oriente Lusitano, o maior ramo maçónico
português. O filho é membro de uma loja com peso histórico, a 25 de Abril. A
sua nomeação para o Ministério da Administração Interna deve-se a outro maçon,
também do GOL, Rui Pereira, na altura ministro, que se orgulhava, numa
entrevista à SIC, de nunca ter sido “proposto ou nomeado para nenhum cargo por um
maçom”.
A
maçonaria é um ponto central na vida de João, filho. Integrou o Conselho
Editorial da Revista de Segurança e Defesa, tal como consta do seu currículo,
com um restrito grupo de maçons influentes, como Ângelo Correia e o próprio
António Vitorino, que há 18 anos acusara o seu pai.
Mas
o ex-libris da família é a Fundação Convento da Orada, fundada em 1988 — pouco
depois do escândalo de Macau — por João, pai, e presidida entre 2006 e 2008 por
João, filho. Com sede em Monsaraz, a fundação detém uma universidade, a Escola
Superior Gallaecia, que funciona em Vila Nova de Cerveira, e onde João, e vários
familiares, integram o corpo docente.
João
Alberto Correia tem 49 anos, e é o mais velho de seis irmãos. É doutorado em
arquitectura pela
Universidade
de Salford, Reino Unido. Ao contrário do pai, não assina com o título Professor
Doutor Arquitecto. Mas tem interesses muito variados, que não se resumem à
arquitectura.
Foi
adjunto de Conde Rodrigues, quando este ocupou a secretaria de Estado da
Justiça. Integrou a Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação
Imobiliária. Ganhou um concurso — também ele polémico — a que mais ninguém concorreu,
quando João Soares era presidente da Câmara de Lisboa. Graças a ele ficou com a
concessão do conhecido restaurante Eleven, no Parque Eduardo VII, que projectou
e vendeu a José Miguel Júdice e alguns amigos. O seu currículo encheu uma
página do Diário da República.
Mas as suspeitas que sobre si recaem prometem encher muitas mais, noutros
periódicos.
Paulo Pena, com J.A.C
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