Em Fevereiro de 1942 o Japão desembarcou em Timor uma força de 20.000 homens e ocupou a colónia portuguesa, sem sequer dizer “água vai”. Preparavam-se para lançar dali, o território mais próximo da Austrália, a invasão. Os timorenses, enquadrados por uma companhia de comandos australiana, cujo comandante ainda era idolatrado pelos naturais há 40 anos e tive o privilégio de conhecer pessoalmente já coronel reformado, Bernard Callinan, lutaram heroicamente contra os nipónicos, infligindo-lhes pesadas baixas, e paralisaram o esforço militar japonês. Morreram entre 60 e 70 mil timorenses mas, provavelmente, pouparam a Austrália à guerra no seu território e a muito sofrimento!
Nobre povo e nação valente!
Gente brava (às vezes demais!), obstinados, dedicados às causas em que se envolvem e nobres. Lamentavelmente iletrados, embora cultos à sua maneira. Não sabem quem foi Gandhi, ou quem é o Dalai Lama, mas têm uma filosofia da vida em que, às vezes, vale a pena meditar.
Pois este povo, para quem a Austrália tem uma dívida de gratidão e devia lamber-lhes o rabo, é tratado abaixo de cão pela canalhice “australopiteca”.
De acordo com a lei internacional, os países marinhos têm direitos económicos sobre uma área com 200 milhas de largura, a partir da linha de costa. Quando entre dois países a distância é inferior a 400 milhas, essa distância é dividida ao meio. É o principio da equidistância. Fácil, justo, cristalino e até um jurista ilustre tem dificuldade em distorcer tal principio.
Em 1972, a Austrália arranjou uma desculpa qualquer, completamente esfarrapada, usando o argumento da plataforma continental e apoderou-se de 85% daquela distância. Portugal, potência administrante, não aceitou, recorreu para o Tribunal Internacional de Justiça de Haia e ali, com aquelas subtilezas jurídicas que conhecemos, o Tribunal arranjou maneira de dizer nim.
Ficou então uma área, ”mar de ninguém”, conhecida por Timor Gap. Por extraordinária coincidência, é ai que estão localizadas as reservas principais de petróleo e gás natural como Bayu-Unden e Troubadour!!
Quando Indonésia começou a dar sinais de que podia invadir Timor Leste, graças à clarividência, senso político e inteligência pétrea da rapaziada do Movimento das Forças Armadas, o embaixador australiano em Jacarta mandou um telegrama confidencial ao seu governo dizendo que encerrar o problema do Timor Gap podia ser mais fácil com a Indonésia do que com Portugal. Daí ao fechar dos olhos das autoridades australianas ao atropelo da invasão foi um passo de minhoca. Os americanos que, como as companhias petrolíferas e os banqueiros suíços, estão sempre envolvidos em tudo quanto seja porcaria deste estilo, disseram amén. E lá vieram anos de sofrimento para os pobres timorenses, atirado sobre eles pelos amigos do “paiper”, “tudai”, “chocolaitou” “tomaitou” e outras palavras terminadas em diabo que os carregue. Além de serem ingratos, são estupores. Mordem a mão que deviam beijar.
Então, a troco de continuarem com os olhos fechados para as arbitrariedades de Suharto e sus muchachos, em 1989 assinaram com a Indonésia o Tratado do Timor Gap, reconhecendo a soberania da Indonésia sobre Timor Leste, coisa que nenhum país ocidental tinha feito até à data. Sobre isto, o Professor Roger Clark, autoridade mundial em Direito Marítimo, escreveu: [...] é como adquirir material a um ladrão [...] o facto é que eles não têm direito histórico, nem legal, nem moral sobre Timor-leste e os seus recursos.
Mas os australianos assinavam tudo, até a crucificação do pai, por uns barris de petróleo.
Então, surgiu uma personalidade sinistra, que até dizem ser comunista, vejam lá, a pedir contas à Austrália!
Alkatiri!!
O homem viveu 24 anos em Moçambique, na fase marxista do país e foi ali educado. Com as reservas e dificuldades que estava a levantar àquela negociata do petróleo, só podia ser comunista! Era preciso abatê-lo!
Como?
Fácil!!!
O Major Alfredo Reinado, antigo exilado na Austrália e treinado na Academia Militar de Camberra, era o homem certo para começar a complicar a vida a Alkatiri. E Ramos Horta, que tirou um curso de diplomacia quase por correspondência em Sidney, era o candidato ideal para primeiro ministro.
E Xanana?
Quem é?!!! Aquele que gravou para a TV uma entrevista patética com Abílio Araújo, depois de feito prisioneiro pelos indonésios? Que faz discursos fluentes e brilhantes? Que nem deve saber o que é o Timor Gap? Por amor de Deus!! Não estamos a falar de gente muito estimulante, mas esse...!!!
E a Igreja?
Bom, aqui para nós, os Senhores Bispos não são grandes ”espingardas” intelectuais. Frequentaram o Seminário Maior em Macau, segundo parece, e aquilo da Filosofia, da Teologia, do Direito Canónico e assim, deixou-os exaustos. E ainda têm uns “fumos” de anti-colonialismo. Vocês não viram a distância de D. Ximenes Belo quando foi recebido em Lisboa pelo generoso povo deste País, que parecia ter recebido Jesus Cristo no Aeroporto da Portela? Com esses não há problema. Só vão perceber o que é colonialismo quando compreenderem o que é isto do Tratado do Timor Gap. Só daqui a muitos anos! E vão perceber que o colonialismo português em Timor era um luxo do Salazar. Só dava despesa! Mas servia, juntamente com Goa, Damão e Diu, para compor a panóplia do “País do Minho a Timor”. Por aí, não havia problema.
Mas acham que o Alkatiri era mesmo comunista?
Sabemos lá se era! Provavelmente, não. Mas dava jeito dizer que sim. Também, se fosse, isso era doença com cura espontânea, sem deixar sequelas. Assim como a maior parte das infecções pelo vírus H1N1.
Ramos Horta, Primeiro-Ministro de Timor Leste e Presidente agora! Xanana Presidente da República e Primeiro-Ministro agora!
Que tristeza!...
Triste porque há coisas naquela terra que não vou esquecer nunca. A cadeira onde fiz consulta no Hospital de Baucau durante ano e meio e era o banco de um tanque japonês, adaptado com engenho timorense àquela inesperada função. As grutas que haviam sido enormes paióis, escavadas nas montanhas por milhares de indígenas recrutados pelos nipónicos e abatidos sumariamente no fim para não revelarem aos australianos a sua localização. A ternura dos “moradores”, espécie de guarda pretoriana dos liurais, que me ajudavam como se fosse uma criança a vencer os difíceis caminhos para as terras onde me deslocava em “acção psico-social”. As recepções dos chefes nativos, que me contemplavam invariavelmente com belíssimo sarapatel, acompanhado por cerveja “Laurentina” choca, muito melhor do que qualquer champagne, whisky, ou vinho do restaurante do Hotel Negresco, em Nice. E a solidariedade do condutor de Unimog que quase morria afogado numa ribeira, com a preocupação única de me por a salvo.
Como posso aceitar o que se passa em Timor Leste, entregue a Xanana e Horta e com australianos a garantir a paz.