Festejar o centenário – ou qualquer número de anos – da implantação da República em Portugal tem actualmente tanta justificação como festejar a instauração do comunismo na Rússia e a formação da União Soviética. Na verdade, as duas “revoluções de Outubro” têm vários pontos em comum. Para além do nome do mês em que foram feitas, une-as: o assassinato de membros das famílias reais; a tomada do poder por minorias socioideológicas extremamente motivadas, organizadas e violentas; a hostilidade radical em relação à Igreja; e, enfim, o principal, a imposição de ditaduras alicerçadas na propaganda e na supressão de liberdades.
O republicanismo português e o bolchevismo russo partilham por sua vez com o nazismo alemão outra interessante, e inquietante, característica: a radical alteração – nas cores e nos elementos que as compôem – das respectivas bandeiras nacionais. Porém, a cruz suástica em fundo vermelho, e a foice e o martelo em fundo vermelho, bem como os regimes que simbolizavam, já foram “arriados”, respectivamente em 1945 e em 1991. Por cá, a esfera armilar em fundo vermelho e verde da bandeira imposta pelo Grande Oriente Lusitano, pela Carbonária e pelo Partido Republicano Português continua a dominar. Por outras palavras Adolfo Hitler e Vladimir Lenine (e José Estaline) já foram derrotados mas Afonso Costa e António de Oliveira Salazar continua(m) a vencer.
As promessas políticas “progressistas” dos supostos “democráticos” do PRP não passaram disso mesmo: o sufrágio universal não foi concretizado, tendo inclusivamente o número de eleitores sido reduzido para metade do que era durante a Monarquia; às mulheres foi proibido, em lei de 1913, o direito de voto; e, com excepção de Sidónio Pais, todos os presidentes até 1926 foram eleitos indirectamente, no Parlamento. A II República foi, sim, uma ditadura, mas mais não fez do que aperfeiçoar, consolidar, desenvolver um “modelo” estabelecido na ditadura precedente, ou seja a I República. “Modelo” esse que tinha como principais – e literais – linhas de força: perseguição, prisão e “eliminação” de opositores ideológicos; repressão de movimentos e dirigentes sindicais; censura, encerramento de jornais, condicionamento da liberdade de expressão; polícia política com uma rede de informadores, denunciantes, “bufos” – à “Formiga Branca” seguiu-se a PVDE/PIDE/DGS. Só com o 25 de Abril de 1974, a República em Portugal na sua terceira fase, se tornou democrática – e, mesmo assim, como se sabe, com muitas deficiências.
Não deixa de ser verdade, no entanto, que o Portugal de 2010 proprciona o “cenário” ideal para a “condigna” celebração dos “ideais” de 5 de Outubro de 1910 “concretizados” nos 16 anos seguintes: agora, tal como naquela época, no “espectáculo” há (pré)falência financeira, insegurança generalizada, ataques a órgãos de comunicação social... e até alteraçãos na ortografia! É tambémpor isso que é pouco menos que escandalosa a existência de uma Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República com um orçamento de 10 milhões de euros que tem servido, inevitável e principalmente, para a continuação da adulteração da História e do branqueamento de um regime de criminosos , contando para isso com a colaboraçãodas instituições estatais, bibliotecas, ecolas e da rádio e televisão públicas... e a conivência, ou indiferença de muitas entidades privadas.
Todavia, se a comemoração do centenário da República, só por si, constitui uma ofensa à dignidade nacional, o ultraje torna-se ainda maior quando comparado, e confrontado, com a inexistência de um programa nacional, oficial, plurianual, “civil” (o Exército tem um e alguns concelhos têm programas específicos) de evocação do bicentenário da (iniciada em 1807) Guerra Peninsular e da comemoração da resistência portuguesa aos exércitos napoleónicos. Hoje, 27 de Setembro de 2010, passam 200 anos sobre a Batalha do Buçaco, que representou um ponto de viragem decisivo naquela guerra e na posterior vitória total das força luso-britânicas comandadas por Arthr Wellesley; no local previam-se as presenças do presidente da República e do Ministro da Defesa, mas, a confirmarem-se, nada mais são do que excepções à regra... do desinteresse. Porquê? Porque para a República é mais condenável o Ultimato Inglês do que as Invasões Francesas?
Em curiosa coincidência, 1810 foi também o ano em que nasceu Alexandre Herculano, corporização do melhor que Portugal teve, no Século XIX e não só. Monárquico assumido, não surpreende por isso o silêncio de que se revestiu o bicentenário do seu nascimento assinalado a 28 de Março último – contraponto evidente, e retaliação tardia, pela autêntica festa nacional em que consistiu o centenário do seu nascimento, penúltima grande manifestação da dinastia que seria derrubada seis meses depois; a última seria, precisamente, o centenário da Batalha do Buçaco... apenas uma semana antes do golpe republicano!
Assim, é por tudo isto que se deve dizer em 2010, “não” a 1910, “sim” a 1810.
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Octávio dos Santos
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Octávio dos Santos
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